sexta-feira, setembro 30, 2005

Autárquicas em Torres Vedras (IV): Já ninguém vai em promessas

Estávamos em vésperas de eleições autárquicas, em 2001. O candidato do PS em Torres Vedras, queria ser reeleito, mas não tinha nada para inaugurar, pois nada havia feito que se visse. O PS já tinha inaugurado todas as maquetas, plantas e desenhos de piscinas, mercados e zonas verdes... tudo promessas em papel que de 4 em 4 anos aparecem, para depois logo voltarem à gaveta. Mas obra mesmo feita... não havia nenhuma.
Vai daí, toca de inaugurar uma primeira pedra de um pavilhão desportivo. Veio o ex- presidente José Augusto (na altura era secretário de Estado), dar uma ajuda aos camaradas Jacinto e Horácio, e descerrou-se a bonita placa de mármore, paga por nós, claro!
Hoje, passados cinco anos a placa continua lá, mas as pedras restantes do pavihão é que não apareceram.
Esta singela placa a ornamentar um terreno baldio, seria uma bela anedota para contarmos aos nossos netos, não fosse o facto de não termos vontade nenhuma de rir com estas promessas e inaugurações fictícias de autarcas de segunda, que fazem do nosso bem comum a sua coutada privada de falsidades.


quinta-feira, setembro 29, 2005

Autárquicas em Torres Vedras (III): Um vereador comunista às "direitas"

O vereador CDU é outra figura a conhecer em terras torrienses. A CDU elege sempre o seu vereador. O que se espera então de um autarca comunista numa edilidade dominada pelo PS há 30 anos e onde o PSD é a segunda força da oposição?
Denuncia dos problemas de compadrio e falta de transparência na gestão camarária?
Fiscalização da actuação autárquica?
Forte oposição a tudo o que sejam decisões lesivas do interesse público?
Batalha incansável pela implementação de políticas sociais, culturais e ambientais?
Recusa de pelouros e cargos remunerados, mostrando que não precisa da política como emprego?
Homem que parte a loiça para defender até ao fim princípios fundamentais?
NÃO... nada disso !!!
O autarca CDU governa ao lado do PS. A troco de um pelouro, ou até meio, e um posto na administração dos Serviços Municipalizados, lá o temos em descarada cumplicidade ao longo de décadas. Esperava-se da CDU uma atitude de contraponto, de alternativa, de transparência e de ruptura com políticas socialistas, que em Torres mais parecem de direita; pois estão sempre de mão dada com empresários, construtores e gente influente, em detrimento dos interesses comuns do cidadão anónimo.
Este ano continua a ser Caetano Dinis o candidato à renovação do mandato.
Poder-se-á dizer: -Mas parece que ele é boa pessoa e tal... até se abstém de vez em quando e levanta questões nas reuniões etc.... Mas na política não basta parecer e as lentilhas têm muita força.
Eis que chegamos à triste situação em que os eleitores de esquerda em Torres Vedras se vêem obrigados a votar... imagine-se... no PSD, em busca da alternativa que não encontram na sua área eleitoral.
Não é pois de estranhar que lentamente esta figura definhe e para sempre desapareça.

terça-feira, setembro 27, 2005

Autárquicas em Torres Vedras (II): A herança urbanística da rosa

O primeiro grande marco do urbanismo torriense cresceu logo na década de setenta em pleno centro da cidade, sob a batuta do autarca Alberto Avelino. Um prédio com 9 pisos nasceu como um cogumelo na Avenida 5 de Outubro, onde a maior construção tinha 4. Ainda por cima colado a uma zona de vivendas. Foi o sinal que a cidade necessitava para afinar a bitola do crescimento. Mas o mamarracho, conhecido como prédio do BES, não tardou a ter um amigo. Junto ao antigo quartel dos Bombeiros, na rua Carlos França, nasceu o conhecido edifício da Finanças com 8 pisos, numa rua com prédios de 2 e 3 pisos e vivendas.

Feito o estrago, começou-se então a nivelar por cima, nascendo a partir daqui outras torres em pleno coração da cidade, onde nunca tal volumetria se havia visto. O truque estava montado: abre-se o precedente e depois nivela-se por cima. Foram então nascendo alegremente edifícios contíguos para enquadrar os anteriores. De Alberto Avelino para José Augusto, a filosofia manteve-se. É então que Torres Vedras vê nascer o maior prédio alguma vez visto, o chamado edifício “Cor-de-rosa”.

Desta vez para “nivelar” a zona sul da cidade, onde a cercea rondava os 4 pisos. Este novo “menino” tem 12 pisos na sua altura máxima e uma volumetria que espanta até o mais louco “pato bravo” desta região. Mais uma zona da cidade desbravada, mais uma missão de planeamento urbanístico cumprida pelos nossos zelosos autarcas. Faltava a zona norte. Não se perdeu tempo em fazer aprovar o famoso “Edifício Choupal”. Onze magníficos pisos numa zona aberta da cidade, onde a cercea era de, imagine-se, um piso, ou seja… apenas ali havia uma bomba de gasolina e um stand de automóveis.

Após tanta sensibilidade e bom senso dos seus dois antecessores, tornava-se difícil a Jacinto Leandro conseguir ganhar o prémio de melhor gestão urbanística. Ainda por cima o PDM falava em seis pisos (malditos PDM), o que estragava a política de nivelamento. Mas a “fome” aguça o engenho e logo um expedito construtor fez o edifício com maior volumetria da cidade, com 9 pisos, mas que oficialmente só tem 6. Trata-se do edifício de maior volumetria de Torres Vedras, denominado "Sol Jardim", composto por cerca de 140 apartamentos e dezenas de lojas, numa única edificação.

A obra ocupa 56 mil metros quadrados. Esta verdadeira peça de “study-case” urbanístico, conseguiu contornar a “chatisse” do PDM e da medida máxima permitida de altura à soleira da porta. Fazendo o prédio em meia encosta, um lado tem 9 pisos, mas o outro tem 6. Então a porta de entrada foi posta no lado de trás. Genial não é ? Tiveram depois que pensar nos acessos, mas o que é isso no erário público?
Assim, de uma maneira ou outra, cada um dos meus autarcas socialistas deixou a sua marca indelével de competência no planeamento e na defesa do interesse público. Tudo isto sempre acompanhado pelas polémicas mais “leves” dos conhecidos “25-A”, “Ricardo Belo”, “Casa do Comendador”…. etc.. Um verdadeiro compêndio. Primeiro constrói-se, depois pensa-se nos acessos e por fim, se der, põem-se uns baloiços no meio.
Com uma cidade a crescer em roda livre ao longo de décadas, cujos grandes marcos históricos referimos, não é de estranhar que Torres Vedras seja hoje um aborto urbanístico, onde a falta de espaços públicos foi substituída por centenas de canteiros, onde o trânsito e estacionamento são apontados pelos habitantes como o principal problema e onde não existem Planos de Pormenor, como determina o PDM. É claro que os autarcas torrienses não gostam de planos de pormenor… estão a ser prometidos o de Torres e o de Santa Cruz há mais de uma década, e até hoje... nada! É muito melhor gerir a cidade de forma casuística, de acordo com os interesses e as amizades do momento, em vez de estabelecer regras claras que balizem uma gestão transparente de defesa do bem comum e de um futuro com qualidade.


domingo, setembro 25, 2005

Autárquicas em Torres Vedras (I): A descendência da rosa

Para falar de autárquicas em Torres Vedras, convém perceber um pouco da história do poder local. O PS governa este concelho desde que há eleições, numa espécie de sucessão dinástica. Há cerca de 30 anos Alberto Avelino ganhou as eleições pelo PS. Passados uns anos, a meio de um mandato, foi embora para a Assembleia da República, ascendendo ao cargo o seu nº2 José Augusto de Carvalho. No mandato seguinte José Augusto foi a votos e ganhou. Mas José também foi embora a meio de um mandato, para Secretário de Estado, deixando na sua cadeira Jacinto Leandro o número dois. O PS percebeu que desta forma o seu candidato começava a campanha dois anos mais cedo e não tinha problemas em ser reconhecido pelo eleitorado. Mesmo assim Leandro, quando foi a votos da última vez, ganhou apenas por 71 votos... sim 71. Mas para cumprir a tradição lá saiu ele também a meio do mandato, desta vez para o sector privado onde exerce, mas depois de pedir a reformazinha de autarca (porque este pessoal está o tempo suficiente para pedir logo a reforma), deixando no seu lugar o número dois: Carlos Miguel. Assim, Torres Vedras é governada há dois anos por um homem que não foi a votos e tem na oposição um homem do PSD que foi a votos e ficou a 71 de se sentar na cadeira (em 53 mil eleitores). Confusos? Nada mal para um partido que se diz republicano.
Portanto nas próximas eleições os torrienses devem preocupar-se mais em saber afinal quem é o nº2 na lista de Carlos Miguel. Porque mais tarde ou mais cedo, quando não estivermos a olhar, “Zás” ele lá estará na cadeira... se o PS ganhar.

sábado, setembro 24, 2005

Os Alegres, os Tristes e os do Frete

Afinal Manuel Alegre sempre avança para as presidenciais. Até que enfim aparece um candidato que realmente quer ser Presidente da República. É o único que sempre demonstrou uma genuína vontade individual de o ser, fruto de um movimento abrangente à esquerda. Ainda por cima aparece outsider aos partidos, o que dignifica a eleição presidencial e credibiliza a sua figura. Todos os outros estão lá para o frete.
1- Soares só concorreu para derrotar Cavaco e fê-lo depois de ter dito tratar-se de um “tremedo erro”. Pior..., fê-lo no âmbito de um apoio expresso de um partido, que é uma clara diminuição da candidatura, para além de partidarizar as presidências, dando ideia que agora os partidos é que mandam na democracia, eles é que escolhem quem é presidente e nós somos todos carneirada.
2- Cavaco é aquela esfinge amorfa, que vai porque não tem qualquer outra hipótese. Imagine-se ele agora ir dizer que não !... Era hilariante.... Não transmite a sensação de uma vontade genuína. Dá antes a ideia que é fruto das circunstâncias, de muitos empurrões e de uma planificação demasiado cuidada, garantindo todos os apoios possíveis, de modo a não dar um passo em falso. A política deve ter mais coração. Cavaco é aquela pessoa a quem toda a gente comprava um carro em segunda mão, é certo, mas nunca seria convidado para uma tertúlia.
3- Jerónimo é mais uma escolha de um tal Comité Central que ninguém sabe se vai a votos nem se vota, ou antes se indica (sempre por unanimidade) os “sacrifícios” que cada um tem de fazer em nome do partido. E o bom comunista lá vai, numa “missão” a bem do partido. Interessa saber se ele queria ou não? A mim interessa, mas aos comunistas parece que não. É assim, como sempre foi...
4- O Bloco de Esquerda precipitou-se. Viu Jerónimo avançar e pensou logo em passar a perna. Não me parece que Louçã tivesse ideia de ser presidente, nunca tal se ouviu. Mas era um dos que estava na sala e o PC já tinha o secretário geral na corrida, não queriam fazer por menos. É apenas uma candidatura para marcar posição, mas não deixa de ser um erro de casting....

sexta-feira, setembro 23, 2005

Eu também quero ser um Reformado

Lá vai ele coitadinho, de bengalinha, devagarinho em direcção à farmácia onde irá gastar todos os tostões da sua magra pensão. Santana Lopes é mais um reformado neste país. São só seiscentos contos. Nem dá para a bucha. Após oito anos de duro trabalho em prol da causa pública em Figueira da Foz e Lisboa, finalmente o prémio merecido. Benditas reformas desta santa gente. Pobres presidentes de Câmara e vereadores ... se não fosse essa miséria para os ajudar a enfrentar as agruras da vida, o que seria deles…. ?
Em Torres Vedras, por exemplo, vejo passar os autarcas reformados em seus carros velhos e gastos, a caminho de empregos miseráveis, com aquele ar triste, velho e cansado após dois longos mandatos; e não deixo de sentir uma certa pena... coitados. Bem empregue o dinheirinho dos meus impostos.
Por mim, aguardo ansiosamente pelo dia em que também eu poderei ser como eles: um Reformado. E falta-me tão pouco… são só uns trinta anos.

quinta-feira, setembro 22, 2005

Em caso de aperto na justiça... fuja

Afinal era engano. A Fatinha não era uma foragida da justiça. Foi tudo um equívoco... já não há perigo. Ela foi apenas de férias, mas já voltou. Ficámos a saber que qualquer cidadão pode fugir à justiça sem problemas, os mandátos contra si podem ficar por cumprir, pode dar entrevistas a gozar com a cara do pessoal todo e depois escolhe entregar-se quando as coisas acalmam e... não há consequências. A Justiça afinal não pune quem foge, faz obstrução ou goza na sua cara. A medida de coação foi retirada, mas o que se passou até aqui foram só umas férias... Não restam agora dúvidas que a justiça portuguesa para além de lenta e classista, passou agora também a ser uma anedota. A jurisprudência feita hoje é clara: Em caso de problema com a justiça FUJA ... não há problema.

quarta-feira, setembro 21, 2005

Um país de sacanas em ceroulas

Dizia um colega meu na escola primária há 30 anos... “Parolos são os que usam ceroulas, não sabem telefonar e não têm televisão”. Penso que hoje o conceito desta criança de 8 anos poderá ser revisto, pois agora qualquer um tem “collants”, telemóvel e vê TV. Mas a julgar pelo Top 10 dos programas mais vistos em Portugal e pelos recentes debates autárquicos emitidos, esta peça de antologia sociológica infantil está mais actualizada que nunca, pois apesar da alteração nos acessórios, continuamos ainda a ser um país de parolos.
Para nos lembrar que ainda há televisão em Portugal, a RTP 2 passou um documentário sobre Jorge de Sena, onde se tornou evidente que para além de parolos, continuamos também a ser um país de sacanas...

No País dos Sacanas

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glandulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência,
a justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.

No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.

Jorge de Sena (10/10/1973)

terça-feira, setembro 20, 2005

Militar só tem de calar e obedecer

Os militares não podem fazer manifs. Foram proibidos e ponto final. Eu não via problema nenhum que os homens despissem a farda e dissessem de sua justiça. Por trás da farda há pessoas e, que eu saiba, não são eunucos mentais. Fingir que por trás das fardas há cabeças que não pensam, não contestam, não discutem... isso é que me deixa muito preocupado. Não me parece que se perdia a autoridade do Estado ou a segurança, se os militares fizessem uma manifestação.Num país onde foragidos à justiça, criminosos condenados por peculato e gente suspeita com contas na Suíça e nas malhas de investigações judiciárias; podem concorrer a autárquicas e até vir a ser presidentes de Câmara, gerindo fortunas do nosso erário...; não é uma manif de militares que me causa insegurança. O Estado tem muitas outras coisas piores a minar-lhe a credibilidade e, ao que parece, todos acham isso muito normal...

segunda-feira, setembro 19, 2005

De estabilidade percebe ele

Face aos resultados eleitorais germânicos, Durão Barroso já avisou os alemães que quer estabilidade. A mensagem do presidente de União Europeia caiu que nem uma bomba nos meios políticos de Berlim, que já ponderam pedir desculpa ao chefe da Europa pelo facto do povo alemão não votar só em dois partidos, dando vitórias absolutas a cada um deles alternadamente, como é usual nas democracias mais desenvolvidas como, por exemplo, a de Portugal.O peso das palavras de Durão é enorme, pois como se sabe, é-lhe reconhecida enorme credibilidade na matéria. Barroso não só, nunca deixou nada a meio, como jamais contribuiu para a instabilidade, ou gerou qualquer tipo de crise, no país que anteriormente governou.

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