terça-feira, setembro 27, 2005

Autárquicas em Torres Vedras (II): A herança urbanística da rosa

O primeiro grande marco do urbanismo torriense cresceu logo na década de setenta em pleno centro da cidade, sob a batuta do autarca Alberto Avelino. Um prédio com 9 pisos nasceu como um cogumelo na Avenida 5 de Outubro, onde a maior construção tinha 4. Ainda por cima colado a uma zona de vivendas. Foi o sinal que a cidade necessitava para afinar a bitola do crescimento. Mas o mamarracho, conhecido como prédio do BES, não tardou a ter um amigo. Junto ao antigo quartel dos Bombeiros, na rua Carlos França, nasceu o conhecido edifício da Finanças com 8 pisos, numa rua com prédios de 2 e 3 pisos e vivendas.

Feito o estrago, começou-se então a nivelar por cima, nascendo a partir daqui outras torres em pleno coração da cidade, onde nunca tal volumetria se havia visto. O truque estava montado: abre-se o precedente e depois nivela-se por cima. Foram então nascendo alegremente edifícios contíguos para enquadrar os anteriores. De Alberto Avelino para José Augusto, a filosofia manteve-se. É então que Torres Vedras vê nascer o maior prédio alguma vez visto, o chamado edifício “Cor-de-rosa”.

Desta vez para “nivelar” a zona sul da cidade, onde a cercea rondava os 4 pisos. Este novo “menino” tem 12 pisos na sua altura máxima e uma volumetria que espanta até o mais louco “pato bravo” desta região. Mais uma zona da cidade desbravada, mais uma missão de planeamento urbanístico cumprida pelos nossos zelosos autarcas. Faltava a zona norte. Não se perdeu tempo em fazer aprovar o famoso “Edifício Choupal”. Onze magníficos pisos numa zona aberta da cidade, onde a cercea era de, imagine-se, um piso, ou seja… apenas ali havia uma bomba de gasolina e um stand de automóveis.

Após tanta sensibilidade e bom senso dos seus dois antecessores, tornava-se difícil a Jacinto Leandro conseguir ganhar o prémio de melhor gestão urbanística. Ainda por cima o PDM falava em seis pisos (malditos PDM), o que estragava a política de nivelamento. Mas a “fome” aguça o engenho e logo um expedito construtor fez o edifício com maior volumetria da cidade, com 9 pisos, mas que oficialmente só tem 6. Trata-se do edifício de maior volumetria de Torres Vedras, denominado "Sol Jardim", composto por cerca de 140 apartamentos e dezenas de lojas, numa única edificação.

A obra ocupa 56 mil metros quadrados. Esta verdadeira peça de “study-case” urbanístico, conseguiu contornar a “chatisse” do PDM e da medida máxima permitida de altura à soleira da porta. Fazendo o prédio em meia encosta, um lado tem 9 pisos, mas o outro tem 6. Então a porta de entrada foi posta no lado de trás. Genial não é ? Tiveram depois que pensar nos acessos, mas o que é isso no erário público?
Assim, de uma maneira ou outra, cada um dos meus autarcas socialistas deixou a sua marca indelével de competência no planeamento e na defesa do interesse público. Tudo isto sempre acompanhado pelas polémicas mais “leves” dos conhecidos “25-A”, “Ricardo Belo”, “Casa do Comendador”…. etc.. Um verdadeiro compêndio. Primeiro constrói-se, depois pensa-se nos acessos e por fim, se der, põem-se uns baloiços no meio.
Com uma cidade a crescer em roda livre ao longo de décadas, cujos grandes marcos históricos referimos, não é de estranhar que Torres Vedras seja hoje um aborto urbanístico, onde a falta de espaços públicos foi substituída por centenas de canteiros, onde o trânsito e estacionamento são apontados pelos habitantes como o principal problema e onde não existem Planos de Pormenor, como determina o PDM. É claro que os autarcas torrienses não gostam de planos de pormenor… estão a ser prometidos o de Torres e o de Santa Cruz há mais de uma década, e até hoje... nada! É muito melhor gerir a cidade de forma casuística, de acordo com os interesses e as amizades do momento, em vez de estabelecer regras claras que balizem uma gestão transparente de defesa do bem comum e de um futuro com qualidade.


Comments:
Curiosamente o prédio do BES foi a primeira obra de José Guilherme no concelho de Torres Vedras.

Estávamos no tempo de Alberto Avelino.
 
Excelente post.
 
BOA DESCRIÇÃO DO HORRIVEL URBANISMO TORREENSE.

E VAI CONTINUAR SEGUNDO PARECE...
 
Perfeitamente de acordo. E, parece que, na Zona Norte da cidade vão nascer prédios para mais 16.000 habitantes: onde vão estacionar? que centro de saúde e que hospital vão utilizar? que creches, escolas e outros equipamentos sociais vão usar? que estradas vão usar?
Provavelmente, a Câmara dirá "Depois pensa-se nisso!"
 
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