segunda-feira, março 13, 2006

Um cábula numa escola Finlandesa

José Sócrates ficou impressionado com a visita realizada a uma escola em Helsínquia, na Finlândia. Mas será que Sócrates aprendeu com esta visita?
Tudo indica que não. Porque para além de ficar impressionado, Sócrates não faz a mínima ideia como a escola Finlandesa chegou àquele ponto.
Mas o mais grave não é Sócrates não saber. Ainda mais grave é o facto dos responsáveis do nosso Ministério da Educação não fazerem a mínima ideia como se constrói uma escola assim. E não estou a falar do investimento financeiro.
Vejamos um pormenor do que viu Sócrates:
O estabelecimento em causa tem 400 alunos e 37 professores, o que dá aproximadamente um professor por cada dez alunos. Mas não fazem substituições, fazem ensino em parceria dentro da turma. Depois dizem que cá há professores a mais e colocam-nos a executar tarefas muito longe das que visariam qualificar o ensino-aprendizagem.
O primeiro-ministro quis saber se os alunos com maiores dificuldades de aprendizagem são ajudados com aulas extra, mas os responsáveis da escola explicaram-lhe que esse tempo lectivo suplementar era considerado desnecessário."Numa sala de aula, há sempre mais do que um professor. Logo que um aluno revela uma dificuldade, um dos professores da sala assiste-o", explicou uma das directoras da escola.
E o que faz a nossa Ministra? Mantém o ensino igual dentro das turmas e depois tira os meninos que não aprendem para aulas extra e apoios individualizados. Para rentabilizar os professores, usa-os para aulas de substituição e prolongamento de horários, bibliotecas etc... em vez de flexibilizar o currículo, promover uma pedagogia diferenciada na turma para todos os alunos e usar os pares pedagógicos de professores como nos países desenvolvidos. Os alunos estão dentro da turma e não em planos de recuperação, turmas alternativas ou cursos profissionais. É a escola que muda, não são os alunos que se mudam.
As mais recentes medidas que o nosso Ministério tem tomada comprovam, sem margem para dúvida os piores receios. Não só ninguém aprendeu nada com países como a Finlândia, como no Ministério da Educação ninguém faz a mínima ideia de como se constrói uma escola de qualidade e, por este andar, vamos demorar muito a lá chegar.
Para rematar Sócrates ficou ainda muito surpreso por saber que a maioria dos alunos queria vir a ser professor. E porquê? Com o ataque que tem feito aos professores, bem se vê o respeito que tem por eles. E depois estranha que haja países onde ser professor é uma profissão mais valorizada.
E como uma desgraça nunca vem só, continuam a chover medidas avulsas meramente de cosmética que este Governo teima em chamar “reformas”. E mais uma vez acertou ao lado de uma verdadeira reforma para a qualificação do ensino português. Desta vez trata-se de fazer exames aos professores no final dos seus cursos, bem como reduzir a formação dos educadores e professores do 1º ciclo para 3 anos mantendo os restantes em 5 anos.
Em vez disso o que deveria ser feito era definir um conjunto de competências que os docentes deveriam ter no final da licenciatura. Competências essas que o Estado tem obrigação de definir, baseando-se num modelo educativo para o país. O que ensinar, como ensinar, que cidadãos queremos, que competências a desenvolver e como. Mas prefere fazer um exame, resta saber para avaliar o quê?
Quanto à redução dos cursos dos docentes nos primeiros graus de ensino, estamos perante mais uma prova da forma medieval como esta gente encara o ensino.
Contrariamente às teorias do desenvolvimento humano, este Ministério acha que é preciso mais formação para trabalhar com alunos mais velhos. É a ultrapassada fórmula da importância da acumulação do saber, em detrimento de um ensino moderno baseado no desenvolvimento de competências, de espírito crítico, investigação, descoberta e valores, que são fundamentais nos mais novos. Mas para o Ministério o importante é saber muitas coisas. Pena que saiba tão pouco.

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