domingo, abril 16, 2006

De cócoras

Há montanhas de factos a contribuir para este nosso estado de espírito tão em baixo.
Apesar de tudo é de nós próprios que precisamos de ser protegidos. Porque nós somos, de facto, um povo muito curvado e servil, sem brio ou amor-próprio. Valorizamos coisas de nada e depois passamos ao lado do que é realmente importante.
Um exemplo disso é o servilismo com que lidamos com gente com dinheiro. Logo que surge um tipo abastado, pronto... ficamos logo de cócoras. Temos esta organização social que só dá poder a quem tem dinheiro e depois passamos a vida de gatas em frente a meia dúzia de money makers.
Veja-se o exemplo da visita do Bill Gates. Aquilo foi uma humilhação. O nosso Governos todo aperaltado a prestar vassalagem ao homem mais rico do mundo. Foi triste o espectáculo.
Outro exemplo foi a colecção de arte do sr. Berardo. Lá que ele queira um armazém para guardar a tralha, tudo bem, não venha é pendurar-se no dinheiro dos meus impostos para tomar conta daquilo. Ou é filantropo e partilha as coisas com o povo, ou então leve lá os cacos para onde quiser. Não comprou aquilo porque é uma pessoa culta e gosta de se deleitar com obras de arte? Então que fique com elas... ou foi por outra razão? Mas como o senhor tem dinheiro lá ameaçou o Governo que levava as coisas embora e ficou tudo em pânico.
São inúmeros os exemplos que poderíamos citar. O Belmiro de Azevedo, por exemplo, a opinar sobre Educação. Uma situação hilariante, não desse tanta vontade de chorar.
Gente cujo único ponto curricular relevante é o facto de terem e fazerem muito dinheiro... parece que isso lhes dá legitimidade para opinarem sobre tudo, exigir tudo e mandar em tudo... enfim... até compram as pessoas. E nós deixamos. Gostamos desta boçalidade saloia do: -senhor doutor, veja lá se quer mais qualquer coisinha.
Ainda hoje vi uma notícia de uma greve num hotel em Lisboa. Não é que as televisões nunca disseram o nome do hotel? Quer dizer... se a GNR fizesse uma rusga num bar de alterne diziam logo o nome do bar, quem era o dono, onde mora e talvez até um directo à porta da casa do homem. Como é um hotel de luxo, coitados...dá má imagem e tal... Mas se fosse uma pensão barata não faltaria...
Fizemos uma revolução para democratizar o país, mas o sector económico e empresarial ainda não teve a sua revolução. Temos que perder esta miserável forma de vida onde o cidadão comum é um lixo e quem tem dinheiro detém todo o poder. Porque não somos todos tratados de igual forma e com o mesmo respeito e competência pela justiça, pela imprensa, nos sítios públicos...?
Por isso este nosso desejo de ser ricos, em vez de íntegros. É esta imagem e desconsideração que temos de nós próprios que nos mina a alma e nos arrasta para a depressão.

terça-feira, abril 04, 2006

É para isto que andamos a fazer tanto sacrifício?

O Governo anunciou um deficit de 6% em 2005. E fê-lo como se de uma boa notícia se tratasse.
Significa que chegámos ao triste valor de 6% após:
- a subida de impostos e taxas em diversas áreas
- o congelamento dos escalões na função pública
- a subida da cobrança fiscal
- os cortes nos orçamentos da educação e outros ministérios
- os aumentos zero dos funcionários públicos
- o corte nos direitos dos funcionários públicos em termos de saúde e segurança social
- o acréscimo de mais dez anos de trabalho aos funcionários públicos
- o fim das reformas dos políticos (anunciado)
- fiscalização apertada nos subsídios de desemprego, baixas e novas regras (anunciadas)
- toneladas de propaganda anunciando mil e uma medidas para baixar o deficit...
Então andaram milhares de famílias portuguesas a fazer enormes sacrifícios para isto?
É esta a quantificação destes sacrifícios... tão grandes para tantos, mas com significado tão pequeno para o país?
E agora sr. Ministro, quem anda a gastar o dinheiro?

Entrada de leão...

Lá foi o nosso Ministro dos Estrangeiros meter o governo do Canadá na ordem. Partiu firme e decidido, mas quando lá chegou, afinal já era tudo legal, já não havia descriminação, já os imigrantes eram uns grande malandros e com recurso a esquemas para ficar... enfim... rabinho entre as pernas.
Fiquei um pouco confuso sobre esta situação porque, julgava eu, que o Canadá tinha aceite os nossos imigrantes como trabalhadores especializados, criando-lhes expectativas muito legítimas, que deveriam agora ser cobradas. Pois não são pessoas que têm empresas, filhos nascidos lá e a frequentar a escola, com carros, casas compradas, anos e anos de residência ? Isto não é criar expectativas? Isto não é uma legalização mais que tácita? Não havia uma postura flexível do anterior governo? Então e este não assume os compromissos de honra do seu país?
Não foram os portugueses pessoas de boa fé ao declararem a sua situação e entregarem documentação? Não foi o Canadá um país que incentivou a imigração? E não é agora o Canadá que, de manifesta má fé, vem armar em legalista, depois de deixar as pessoas comprar bens e estabelecer-se?
Pior! Aproveitaram a boa fé dos portugueses e foi graças aos documentos que entregam, que agora os caçaram... mas os que se mantêm ilegais... esses não os apanham.
Isto tudo é normal? Aos olhos de Freitas parece que sim.
Ficou ainda por esclarecer porque a embaixada portuguesa despediu pessoal e não tem adidos para acompanhar a legalização desta gente.
Ou seja, tudo espremido, resulta que ficaram abertos canais de comunicação entre os dois governos. Mas parece-me que esses canais serão apenas para nós sabermos as datas de regresso das famílias portuguesas para os recebermos no aeroporto a chorar.

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